quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Felicidade egoísta


Eu sou dona de mim mesma, muito mais dona do que achei que seria. Sou tão dona de mim que chego a me perguntar se isto é certo, se eu não deveria fazer algo semelhante à uma reforma agrária interna, dividir em pequenos pedaços minhas felicidades, para que outros pudessem aproveitar também. Por que afinal, eu resolvi viver para isso.

Talvez algumas pessoas tenham direito a me ter. Por que não? Quando foi que me tornei tão egoísta a ponto de não me dividir, de colocar minhas questões, minhas prioridades na frente de qualquer coisa?

Cheguei a um ponto de acreditar que não amaria mais, que o amor me fez sofrer tanto que ele acabaria por ali, e eu não deixaria mais ele aparecer sem avisar. Resolvi que minha felicidade não seria atrapalhada por nada, e eu me senti vazia. Como se não amar, me tornasse tão detestável a ponto de eu mesma não me suportar.

Quando fiz isso descobri que minha felicidade é a coisa mais importante que existe, sim. E eu decidi que meu amor seria tão detestável quanto eu, seria seletivo, e chato. Por que é a minha felicidade não é egoísta. Minha felicidade está na felicidade de quem amo, e é isso que não me faz ser insuportável, muito menos egoísta.

Sou feliz de ver amigos realizados, sou feliz de acertar o presente para minha mãe, sou feliz de enfrentar horas na fila apenas para minha sobrinha ter a foto com Papai Noel. Na hora que minha felicidade está fora de mim, eu me sinto completa. Me sinto perfeitamente justa diante do meu ‘egoísmo’. Por que no fundo todos nós somos assim. É claro que uma hora você tem que pensar em você, no que você quer fazer, e não no que os outros querem que você faça, mas isso não te faz uma pessoa pior.

E em certo momento você vê que no fundo os clichês sobre amor e felicidade têm quase sempre razão. O amor alimenta a alma, o coração. É sempre o amor mesmo que bobo, mesmo que esquecido, mesmo que sem razão.

Por que amor não é só paixão, amor não é só sofrimento, amor não é só saudade. Amor é tudo em uma coisa só, mas dividido em milhões de partes. Por que amor é tão simples que se torna complexo. Amor é tão detestável que se torna atraente. Mais ainda, ele se torna essencial para que se seja digno da chamada felicidade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Desencontro marcado



E de repente eu me vi te olhando, entre nós, somente aquela rua estreita. E eu te vi, me olhando como antes, como sempre, como nunca deixou de ser. E enquanto eu te via eu lembrava daquele tempo, que só de ter suas mãos com as minhas eu já me alegrava. Porque eu podia saltitar ao seu lado, como num filme idiota de romance.

Eu te vi diferente, com ela você estava diferente. E apesar de tudo o que sei, tudo o que eu mudei nos últimos tempos, eu me senti como antes, como se tudo ainda fosse igual. Era você, eu e aquela maldita rua entre nós. Eu só queria saber quando surgiu isso, quando acabou, quando a gente deixou a vida decidir que era melhor sermos só amigos.

Ainda tenho vontade de te ligar, de sair pra comer alguma coisa, ou ver um filme em uma noite tediosa durante a semana. E quando a rua surgiu, é a parte que eu ainda não entendi. E eu ainda me pergunto o que você sabe? O que você pensa? Por que eu ainda tentaria, recuperar todo o final? Aquele final, perdido entre esquinas, de ruas estreitas e desconhecidas.

Eu te amava sabia? Só não queria assumir isso antes, depois ou mais tarde. Eu sinto que cada palavra que digo não irá alcançar lugar algum, como se a ligação que eu insisto em não fazer ainda me calasse.

Por que eu fui tão idiota ao seu lado? Por que parecia que sua voz derretia alguma parte dos meus neurônios? Eu sinto apenas que tudo o que eu preciso é te ouvir chegar e me chamar baixinho perto do meu ouvido, como se as coisas fossem as mesmas de tempos atrás.

Eu só queria que tudo voltasse, e que te ter ao meu lado fosse permitido. Queria ser sua quando você quisesse, assim como um vinho que te espera durante a semana para descontrair. Eu te queria aqui, do meu lado agora, me dizendo todas aquelas bobagens de signos que me fazem virar uma pré-adolescente do seu lado. Queria ouvir suas ladainhas pra me convencer, que sempre me convenceram.

Eu queria ser menos idiota insegura do seu lado. Eu poderia ir aonde você quisesse, onde eu quisesse ir com você. Sabe, eu já acho que não tenho medo, eu me esqueci do que me deixou perdida, na verdade só queria me perder com você. Eu me perderia em qualquer lugar, até mesmo naquela maldita rua escura que estava entre a gente, só para ver até onde ela pode chegar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Exigência


E aí surge aquela vontade de tentar, de ir atrás e ver o que acontece, sendo que no fundo ainda há a certeza, uma “Vozinha”, baixinha que diz; “Você vai quebrar a cara”. Aquela voz baixa, que insiste em dizer o que suas amigas falariam, se você colocasse todas as suas idéias para fora.

Acho que nossa memória tem um dispositivo para nos proteger do nosso passado. Um botãozinho que é acionado quando as lembranças doem demais quando passam por nossa mente. E uma hora a dor diminui e a gente começa a se esquecer o que fez as coisas serem como são.

A gente esquece as brigas, os choros, os desesperos e os porquês. E começamos a querer tentar de novo, e de novo, e de novo. Acho que isso se chama esperança.

O problema não é ter esperança, o problema é se esquecer do que te fez perdê-la um dia. Uma hora temos que encarar nossos erros, nossas vontades e deixar certas coisas pra trás. Nunca é fácil, encarar, separar o joio do trigo e decidir: “Vou por esse caminho, e não por este”.

Sempre tive mania de me envolver com caras que não tinham muito a ver comigo. Um não gostava de sushi, o outro detestava comédias românticas, um odiava meu vício por Coca-cola, e tinha um outro que odiava as minhas séries. E ainda teve um que no terceiro encontro já me disse que não queria casar, que seu último namoro tinha sido péssimo, e que sua próxima viagem seria para um campo de guerra. É claro que nenhum deu certo, mas eu insisti, eu tentei, fui até onde não havia mais a chamada esperança.

E quando a esperança acabava, eu me conformava, e lembrava que desde o começo minha “Vozinha” já sabia que não daria certo. Sim, eles tinham qualidades, mas eu sabia que os defeitos uma hora iriam superá-las.

Chega uma hora que você se dá conta que as coisas têm seu caminho, mas que você ainda é responsável pelas suas escolhas, e pelos caminhos a serem seguidos. Talvez eu tenha começado a ser mais radical, ou não. É só que agora logo no começo dou muito mais ouvidos à minha própria “Vozinha” quando ela diz; “Você vai quebrar a cara”.

É ela que me lembra meus porquês, minhas histórias e todas aquelas coisinhas que eu insisto em esquecer quando a esperança surge diante de um sorriso bonito, ou um cara encantador. E a minha “Vozinha” agora tem companhia, o nome dela é Exigência.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pé na bunda


E nesses dias que você sai de casa e resolve não pensar em nada, é quando parece que o mundo gira, querendo fazer você lembrar, pensar, repensar e questionar. Naqueles dias que você já cansou de rever seus problemas, sempre tem alguém que vem te mostrar que existe coisa pior, ou melhor, acontecendo por aí.

Em um desses dias entre o café corrido no meio da tarde a amiga liga e você larga o expresso pela metade, para um encontro as pressas, por que às vezes o problema é sério. Tem hora que as coisas acontecem sem você prever, não era um acidente, por sorte não fui encontrar a amiga desesperada no pronto-socorro.

Não posso dizer que estava tudo bem. Encontrei ela de moletom, blusa do Pato Donald’s dentro de casa, com as janelas fechadas. Uma receita de brigadeiro, restos de delivery pela casa, isso sem contar nos seis DVD’s atrasados em cima da mesa da sala.

Nesse momento eu era a realidade, dando três soquinhos na porta antes de encontrar o buraco que ela havia se enfiado. E a realidade é rápida, quando você vê ela já chegou, sentou do seu lado e resolveu que dali não saía mais. E ali eu era a realidade, não a faxineira. Com uma colher de brigadeiro me sentei no sofá e resolvi saber o que aconteceu.

É que o amor decepciona, e às vezes a decepção vem com bônus, o bônus surpresa. Eu não estava ouvindo sobre um namorado de três anos, que terminou tudo pra ficar com a vizinha, mas do ex de três anos que cansou, virou as costas e seguiu em frente.

Tem hora que o amor acaba, é normal. E também é normal que o amor continue, porque relacionamento é composto por duas pessoas, o que uma sente não determina o que a outra sente ou deixa de sentir. E quando o amor fica desamparado, sem rumo, perdido em meio à casa fechada com delivery, brigadeiro e comédias românticas o amor vira desespero. Ele vira obsessão, saudade, e ele vira dor.

É porque o pé na bunda dói, ora! Dói sim, e não dói só na bunda dói na cabeça, na testa enrugada, no olho inchado. Dói dentro do peito, como se você infartasse no meio da comédia romântica. E a dor ainda reflete no espelho, nas roupas, no sapato, no salto que você não quer mais usar. Dói em cada vez que você quer gritar com a cara enfiada em um travesseiro. Foi difícil dizer, mas ia continuar doendo, por um bom tempo.

Eu acompanhei o brigadeiro, mas decidi que não ficaríamos alí. Saímos, tomamos um café, que se estendeu para uma cerveja, e uma posterior balada. Ela não encontrou o príncipe encantado naquela noite, nem nas várias que se repetiram. E aquela não foi a única vez que o brigadeiro nos uniu.

São coisas naturais, como a gravidade faz você ficar preso ao chão, como o álcool prejudicar a sua memória da noite passada. É natural que um dia, por acaso, você sofra por amor. E queira sumir dentro de casa, enfiada no meio de roupas velhas e filmes sem sentido. 

Mas a realidade é que uma hora passa, a dor diminui e o brigadeiro entre amigas, vira desculpa pra conversas, risos e diversão. E na hora que passa, o que antes representava dor vira sinônimo de amor e felicidade. Clichê, mas verdade.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Esquecida


Ela havia se esquecido de pensar.Há muito tempo não pensava, simplesmente não queria. Pensar pra que se jurava já ter tudo que queria?

Esqueceu de lembrar do médico, do trabalho, do compromisso, da irritação. Não pensava, nem nela, nem nos outros. Seguia, sem pensar. Deixou de lado o que antes importava, e passou a pensar no que achava importante agora.

Iria seguir buscando a felicidade, não importa qual fosse. Buscava a felicidade nos outros, e não nela mesma. Achava que um namorado faria a diferença, e se um não fez, por que não tentar com mais dois ou três?

Continuava se esquecendo, se esquecia da beleza, enquanto se escondia atrás de corretivos, blush e óculos escuros. Ligava sempre o som no máximo, pra não lembrar de pensar enquanto passava pela rua que havia morado, ou pela rua que passou no dia que decidiu parar de pensar.

Esquecia carteira, celular, bolsa, cartões, onde quer que fosse. Esqueceu seu coração em alguma esquina quando quis beber pra esquecer. Esqueceu quem era junto com o celular, no banco de uma boate qualquer.

Ela simplesmente já não lembrava, que podia ser feliz por ela mesma. Esqueceu que tinha tudo pra sorrir mas preferia não lembrar. Ela já tinha medo de sorrir.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Independente



Não preciso de um homem para carregar o lixo, levar as compras, me viro muito bem quando isso precisa ser feito. Não preciso de um homem que me leve aos lugares, tenho carro e sei muito bem me virar sozinha. 

Claro que é mais fácil ter um homem alto, disponível para trocar a lâmpada. Mas não há problema em arrastar a cadeira, e num simples movimento de parafuso, colocar a lâmpada nova em seu devido lugar.

Atualmente mulheres independentes assustam, homens se sentem meninos. Existem aqueles que não ligam, mas ainda há aqueles que se incomodam em ser deixados em casa. E ainda há mulheres que não querem esse papel.

Ora, existe o equilíbrio, e ele deve ser seguido. Não é que ser independente significa depressão, solidão ou estar encalhada. As coisas são complicadas, e muito simples, existe a opção.

Relacionamentos não são baseados em dependência, carência. Relacionamentos são opcionais, compartilhados, recíprocos. E se um relacionamento não é o que você procura, é melhor ficar sozinho.

É claro que às vezes bate aquela solidão, uma saudade que não tem de quem, é só saudade de querer estar junto. Mas estar junto por estar, não vale. Saudade de poder deixar o carro em casa e ser levada na farmácia. De deixar de ir pra balada por causa de uma vontade repentina de ir ao cinema.

Saudade de colo e de cafuné, de frio na barriga e de sentir saudade. Não é que a solidão seja um problema, até mesmo em relacionamentos ela é necessária. A individualidade costuma ser desvalorizada, esquecida e rejeitada.

É uma delícia escolher passar uma sexta-feira a noite vendo séries, debaixo das cobertas e comendo pipoca. Ainda mais quando você escolhe a série, o fondor da pipoca e usa a sua coberta velha. Mas é como já diz a música, é que um carinho às vezes faz bem.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Silêncio



Você foi como quem tem hora pra partir, como o vizinho apressado que não espera a senhora do segundo andar, na hora de entrar no elevador. Foi rápido, com pressa, sem olhar pra trás, enquanto estava muito concentrado nos obstáculos que deveria desviar.

Podia ser mais fácil, a distância que criamos é maior que a realidade. Pegar o carro, andar um ou dois quarteirões, parar na sua porta e buzinar. Fazer um escândalo, acordar vizinhos, só para você chegar na janela e me chamar de idiota, mas descer correndo pra me dar um beijo.

Sim, podia ser fácil, podia ser simples, podia ser real. Como no dia que vi você me olhando e dizendo que sentiu saudade, sem reação eu não disse que também senti. Não aproveitei seu abraço, nem o seu beijo eufórico. 

Me calei e sorri, como se aquilo não fosse nada. Como se por dentro não houvesse uma vontade enorme de te pedir pra ficar mais um pouco, por que eu não queria que a saudade voltasse.

Você me ligou quando eu já não esperava, quando aquela última esperança já havia sido encoberta pela saudade amargurada. Era tarde demais, a vontade se virou contra mim, e resolveu deixar claro que a vontade única não funciona.

Não adiantava querer todos os dias, sentir saudade, esperar o telefone tocar enquanto ele não toca. As coisas teriam que fluir, acontecer, e não deixar-nos enlouquecidos para que aconteça logo.

E na hora que eu sinto vontade de ir até a sua porta, fazer qualquer coisa, um escândalo que seja. Percebo que nem coragem para te ligar eu tenho. Que eu te espero, te quero, e sinto saudade, e que você nem sabe.

E as coisas seguem assim complicadas, e completamente simples. Por que o telefone está ali, com seu número. E agora, eu prefiro que fique assim. Não quero ser sua opção, nem te ter como opção para uma noite tediosa. Deixa a distância entre nós dois calar os murmurinhos da saudade, enquanto o silêncio do tempo me deixa te esquecer.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Hora errada


Muitas vezes a gente se pergunta por que as coisas foram assim, propõe hipóteses, cria empecilhos e arruma uma justificativa qualquer para a dúvida que fica no ar. Por que às vezes as coisas não acontecem do jeito que a gente quer, fogem do controle e acabam.

Imprevistos, o velho mau do mundo pós-moderno, moderno, capitalista ou pré-histórico. O mundo tem sua lei própria, incontrolável e inexplicável, por que a gente nunca sabe mesmo a hora que as coisas vão acontecer, ou acabar.

Outro dia vi um filme que a protagonista comia a sobremesa antes do jantar, pelo simples fato de ela não ter garantia nenhuma de que estaria viva para o tão esperado doce. E nesse meio tempo eu me lembrei da minha mania de sempre deixar as coisas boas para o final, mas a gente nunca sabe quando o final vai chegar.

Coisas imprevisíveis, sim, imprevisíveis. Você nunca sabe quando vai aparecer alguém bom na sua vida, que vai te fazer melhor, que vai ser parte de você. Você sabe menos ainda quando isso vai acabar, quando a pessoa vai embora. Pior é ver isso em alguém e não ser a pessoa certa, por que tudo tem sua hora certa.

Uma amiga me disse que tinha encontrado sua alma gêmea, um cara que a completava. Tinham os mesmos gostos, curtiam cada momento juntos, podiam passar horas, dias conversando e se divertindo só pela companhia um do outro. Mas não deu certo, e quando eu perguntei por que, ela disse com uma voz de quem entendeu o que tinha acontecido. Eles simplesmente não se apaixonaram.

Por que as coisas são assim, elas tem o tempo certo, e às vezes elas só não tem que acontecer. Um dia o cara some, você some, as vidas seguem e as coisas continuam. Talvez você não esteja esperando quando “O” cara certo aparecer, e talvez você só se dê conta disso quando já tiver acontecido. São muitos “talvez” que nós mulheres resolvemos usar para justificar a ordem natural das coisas.

Talvez ele te ligue amanhã, talvez ele não te ligue. Talvez você suma, talvez ele apareça. Talvez ele não fosse o cara certo, talvez você fosse pouco demais pra ele. Talvez você fosse muito, talvez ele tenha achado que você sumiu. Talvez dê certo um dia, talvez não era para dar certo. Afinal, talvez as coisas tivessem que ser assim.

Por que na maioria dos casos, só não era “A” hora certa. Ele não te usou, não te esqueceu, não te achou chata, nem pouco pra ele. Por que a hora errada não é uma ligação tarde da noite, ou a falta dela. A hora errada é o ponto final que elimina os “talvez”. E faz com que você entenda que uma hora, a hora errada fica certa.

domingo, 7 de agosto de 2011

Sinto falta


Esses dias eu senti sua falta, como sempre sinto. Quis te ligar e te contar da última festa que fui e tocou nossa música, e eu dancei como se você estivesse ali comigo. Ficou vazio, mas era você ali, ainda que presente só no refrão viciante da melodia.

Eu iria te falar dos meus últimos amores, das minhas novas amigas, das descobertas e das saudades. Queria sentar e tomar uma cerveja, por que eu sabia que só a sua presença já me completaria. E seus conselhos que como um mantra eu ainda repito, me fizeram falta.

Aos poucos deixei algumas palavras serem esquecidas, suas últimas falas tristes não existem mais. Ficou sua felicidade, minha felicidade ao seu lado, por que nessas horas é o que fica. E eu ainda tenho seus óculos na minha caixa de coisas boas, tenho suas cartas, tenho nossas histórias, e são elas que me fazem o que eu sou.

Tenho a saudade, que às vezes vem bater mais forte. Ainda não sei ao certo quanto tempo dura a saudade, na verdade eu sei, mas a saudade me incomoda muito para que eu queira remoer.

Ainda olho as fotos quando quero ouvir sua voz, e eu leio o que te escrevi e não mandei, e dói bem lá fundo. A gente era tão igual, que sinto o vazio como uma parte que me completa. E agradeço por cada momento que ainda posso chamar de meu.

Eu quis te escrever, e quis apagar cada palavra como se ela não fosse capaz de dizer tudo o que eu estava pensando. E eu comecei a me perguntar se as coisas precisam ser ditas. Eu nunca te disse tudo, você sabia sem eu dizer, e isso sempre me bastou.

Não gosto de pensar na gente como almas gêmeas, metades que se completam. Éramos tão iguais que chegava a ser previsível cada atitude sua, cada risada, cada briga, cada pedido de desculpas em meio as nossas madrugadas.

Eu sinto sua falta a cada dia, a cada hora, em cada lugar, em cada amigo seu que encontro despercebido em alguma esquina. E eu me sinto previsível e chata por pensar tanto em você, mas agradeço, por ter tido cada momento.

Queria apenas te contar as coisas banais do meu dia, e saber que você ouviu tudo, entendeu e me falou as poucas verdades que eu precisava ouvir. Acho que fiquei mais boba sem você, mais chata e sem chão, mas essas coisas eu não posso evitar.

Você não se foi, eu ainda insisto em achar que não te deixei ir. E acho que é em vão cada palavra que falo, escrevo e digo. Sei que você está aqui comigo, mais do que quando estava de verdade.

Ainda leio signos, e sinto plena antipatia por Libra, mas tenho tentado ser tolerante. Você fez de mim o que eu sou hoje, e sei que eu não fui pouco pra você em vida.

Eu ainda te amo. Eu sempre te amei, e sempre vou te amar. Essa não vai ser a primeira, nem a última das cartas bobas que te escrevo e não entrego. É que às vezes é difícil esconder a dor quando as lágrimas me rasgam por dentro.

E quando eu me sinto boba, muito piranha, ou muito triste, escuto você me xingando. Me mandando parar com isso, que sou ariana e mereço mais do que tenho de verdade. Estou com saudades, e isso me deixa sentimental, não fique bravo. É só que nossa música acabou de tocar, e eu quis com todas as forças te ligar. Ok?

sábado, 30 de julho de 2011

Reencontro (II)

(Continuando...)

Seu corpo já começava a doer de tanto ficar na mesma posição, entre uma virada e outra pela cama ela despertava aos poucos. E enquanto despertava, tentava se lembrar da seqüência dos fatos. Primeiro não tinha nada para fazer em pleno sábado a noite, já na terceira vez em que relia sua agenda de contatos, enquanto atendia uma amiga que outra que a procurava para saber desde aonde ir até a roupa que deveria vestir, uma ligação que salvou sua noite. Ela ainda estava se questionando se havia salvado ou terminado de destruir.

Não o via a três meses, desde que seu medo por se envolver a levou a terminar algo que ela nem mesmo deixou começar. Ele continuava o mesmo, o cabelo levemente despenteado entre os cachos cor de mel, a barba por fazer era algo que ela preferia não lembrar muito, ele mudara de perfume, mas era melhor, a fazia sentir-se começando, e não reencontrando. 

Não se cumprimentaram tão carinhosamente como de costume, mas isso ela já esperava, afinal três meses naquele caso, tinha sido muito tempo. As conversas foram calorosas, misturavam as novidades dele com as dela, não havia nada de romântico, pareciam velhos amigos a colocar o papo em dia, e no fundo ela sabia que era isso. 

Pediram a sobremesa, enquanto ele contava do último final de semana que foi para a cachoeira, que haviam ido juntos. Ela não queria ir embora, mas não discutiu quando ele pegou o caminho da sua casa. Apesar das conversas calorosas, o beijo foi frio, não havia a paixão de antes, pelo menos da parte dela. Ele brincou se ela não o convidaria para subir, ambos sabiam que era brincadeira, e ela não tentou disfarçar. 

Subiu no elevador na esperança de uma chamada não atendida ou uma nova mensagem, deixou o celular em casa de propósito. No fundo já sabia que não haveria nada, o orgulho dele, chegava a ser maior que o dela. Preferiu tomar um banho, aquele perfume que ficou na sua blusa, agora causava enjôo. Arrumou sua cama, pegou a água, ainda ligou a tv, mesmo sabendo que ás três da manha não haveria nada de interessante passando. 

Enfim, resolveu olhar o celular, nada. Ela já sabia, não se surpreendeu e achava melhor assim. De novo seu medo era maior que o que sentia. Escondia de si mesma a esperança que o telefone ainda tocasse, e que a história que ela havia acabado de reviver, não se repetisse. E ainda se conformou quando pensou que esperaria ele ligar, daqui alguns meses, para um reencontro.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Reencontro

Resolveu que a encontraria de novo depois de voltar na cachoeira que estiveram juntos. Tinha ido acompanhado, e parecia estar em um lugar diferente. Sentiu falta dela, de sua risada. Lembrou das suas piadas sem graça, mas que a faziam rir, e isso o fazia bem. Ele sabia que já sentia falta havia algum tempo, só não tinha tido coragem de ligar. Era sábado a noite, mas decidiu que tentaria, ela já deveria estar pronta para sair, apenas escolhendo em qual festa ir. Resolveu ligar, se arriscar.

Surpreendeu-se ao desligar o telefone já com a hora marcada para pegá-la. Tinha que pensar um pouco mais rápido que de costume. Com todas as outras era mais fácil, com ela não, ele pensava até na hora de passar o perfume. Pegou um novo, ela não comentou. Surpreendeu-se mais uma vez, achou que ela reclamaria já que gostava tanto do antigo.

Ela estava linda como sempre, mas o olhava diferente, sentia que ela estava distante mesmo enquanto a ouvia contando todas as novidades de sua vida. Ele sabia que ela não contara o mais importante, quem era o dono daquele brilho no olhar que ele conhecia bem. Não propôs nada quando sairam do restaurante, ele não queria mais se machucar. No fundo sabia que se veriam de novo, mas preferia assim, aquela noite já chegava a seu fim.

A conversa continuou no caminho pra casa. Despediram-se com um beijo, era o mesmo beijo, sentia-se como se estivesse voltando no tempo, mas estava diferente. Ela estava novamente apaixonada dessa vez não por ele, tinha de aceitar isso. Três meses haviam sido mais tempo do que ele pensara.

Enquanto o portão se fechava, ela não se esqueceu de dar tchau. E ele ficou com a certeza, de que só poderia desejar mais sorte do que ele havia tido, para o cara que estava no lugar que ele havia estado antes.

(Continua...)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Relacionar


Re.la.ci.o.nar (lat relatiore) sf 1 Listar, rol. 2 Ligação, vinculação. 3 Relacionamento. 4 Analogia, semelhança. 5 Mat Razão geométrica. sm pl Convivência, freqüência social trato entre pessoas; parentesco. Relações Humanas: Comportamento do individuo em seu contato com as pessoas. Relações públicas: intercambio de informações, entre uma instituição e sua clientela. Relações sexuais: cópula.
(Michaelis: dicionário prático da língua portuguesa. – São Paulo: Editora Melhoramentos, 2001.)

É muito simples, e qualquer pessoa com um nível de conhecimento básico, sobre significados, palavras e dicionários consegue achar a definição exata de relacionar. Mas na prática significados não costumam valer muito, devo dizer  que valem menos quando se trata do significado de relações humanas da coisa. E valem ainda menos quando o significado vem explicar o lado relação amorosa.

Se interpretarmos as relações pelo seu lado lógico, é muito simples perceber que relações possuem um inicio, meio e fim. Pessoas se conhecem se gostam, ficam juntas, se relacionam, não dão mais certo, se cansam, e deixam de se relacionar. Geralmente ao final de um desses ciclos, essas mesmas pessoas costumam jurar que não se meterão nessa encrenca de “Relacionar” com outras pessoas. Mas elas são humanas, e tempos depois de não estarem se relacionando, querem voltar a se relacionar, e começam tudo de novo.

Pode-se dizer que relacionar resume-se à convivência, trato ou parentesco, mas todos sabem que não é apenas isso. Relacionar-se exige muito mais de uma pessoa do que pode-se caracterizar, e é por isso que a maioria jura nunca mais se meter nessa encrenca relacional. Juram que nunca mais irão chorar, sentir falta, estar junto, e querer outro alguém. E quando percebem, estão indo ao cinema, tomando Milk shake, esperando um dia de chuva pra comer pipoca, estão ficando, estando, namorando, estão se relacionando.

Nada é tão simples quanto um significado de dicionário pode dizer, sempre que procuramos ser lógicos de mais, é quando sabemos que estamos nos perdendo em nosso inconsciente irracional. Buscamos respostas, explicações e qualquer coisa que justifique o nosso comportamento divergente de certo tempo atrás. Pessoas costumam aprender com relacionamentos anteriores e aplicar essa lição nos novos, o que facilita muito o ato de relacionar (ou não).

Relacionamentos são assim, não queremos, mas precisamos. Por isso desejamos sempre que eu relacione, que tu relaciones, que ele relacione, que nós relacionemos, que vós relacioneis. Que eles se relacionem e que toda essa coisa de relação, seja mais fácil do que decorar passados, presentes, perfeitos, indicativos e subjuntivos.

sábado, 9 de julho de 2011

Sinceramente


Você me pediu para não ter vergonha, para ser eu mesma, para te deixar me conhecer. Pediu com calor nos olhos, com carinho, com vontade. Me pediu de um jeito que há muito eu não via, não sentia.

Devo confessar que não é fácil assim, as coisas são bem mais complicadas, por mais que você já tenha tentado me provar que são muito simples. Tenho tentando me concentrar nas minhas coisas boas, para que você não me ache uma chata, cética e incrédula nas coisas que vão além da minha razão.

Na verdade, eu sou tudo isso, sou a casca dura que deixou de acreditar em simplicidade, a casca que achou que não se recuperaria depois de tantas vezes quebrada. Talvez você esteja certo, e as coisas sejam realmente simples. Mas eu, eu sou complicada.

Tão complicada que não me entendo, que me questiono, e que penso mil vezes antes de te falar qualquer verdade simples do meu dia a dia. Me acostumei, e hoje com facilidade sei que sou capaz de esconder todo e qualquer sentimento que esteja dentro de mim.

Isso não é bom, sei bem disso e sinceramente, é um dos meus maiores defeitos, dentre os tantos que você vai encontrar. Não durmo de porta aberta, falo palavrões, grito e sou mandona. Odeio que me digam o que fazer. Gasto mais da metade do meu dinheiro em roupas, e sempre acho que não tenho o que vestir. Amo meus saltos, por mais que eu saiba a dor que eles me causam.

Tenho mania de esmaltes, e você pode me ver com sete esmaltes diferentes ao longo da semana. Assumo que dou uma importância exagerada para minha vida social, mas me esqueço facilmente de ser simpática com quem não gosto. Dirijo igual homem, mas adoro homem que faz baliza com uma mão só. Confio exageradamente na opinião das minhas amigas, e odeio não ter razão. 

Sou o paradoxo em pessoa, e talvez por isso me ache tão complicada. Eu nunca vou saber responder o que eu gosto, muito menos tomar uma decisão de cara. Queria ser mais simples, mais direta e não ter medo de assumir minha sinceridade. 

Posso passar o dia esperando você ligar, mas sou incapaz de mandar uma mensagem. Talvez isso tudo seja culpa minha, de ter me deixado traumatizar, e esquecer que no fundo ainda tenho esperança. Mas na minha cabeça a esperança é minha e portanto, ninguém ficará sabendo.

Talvez meus olhos castanhos tenham te conquistado, ou você apenas se confundiu. Você pode dizer que não, que estou errada que as coisas acontecem assim, mas eu sempre acho que tenho razão. E no meio de toda a minha teimosia, eu só queria que você me fizesse mudar de ideia.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Constelação imaginária

Daqui uns dias eu vou acordar depois de mais um dos sonhos que você aparece. Já deixaram de ser sonhos há muito tempo, viraram pesadelos, e por isso me acordam. Quando eu acordar, vou fazer como sempre faço, vou levantar e pegar um copo de água bem gelada, tão gelada que vão me doer os dentes. 

Enquanto esqueço da dor, vou me sentar na varanda como sempre faço, vou ficar tanto tempo que a água vai aquecer. Enquanto ela aquece, de novo, fracassadamente, vou tentar achar aquela constelação de nome estranho que você me mostrou um dia. Ela nunca vai estar lá, na verdade acho que você inventou pra me fazer rir, e parecer um pouco mais intelectual. Acho que é por isso que eu queria tanto achá-la.

Vou tentar me convencer a parar de procurar. Mas não vou parar, você conhece minha teimosia. Uma hora, como sempre, vou me contentar com o Cruzeiro do Sul. 

Com todas as minhas forças, vou ignorar a vontade desesperada de te ligar, de mandar mensagem ou pegar o carro e parar na sua porta. A vontade não vai passar. E eu não vou ter desistido de achar aquela constelação. Pelo simples fato de você ter me prometido que, quando eu olhasse para ela, mesmo que você não estivesse olhando, estaria pensando em mim. 

Vou terminar de beber minha água, agora quente, vou trancar a porta e voltar a dormir. E você nunca vai saber da existência dessa noite. Assim como não soube de nenhuma das outras.

10/12/2009

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Desgostando




Seria mais fácil se as coisas tivessem uma ordem menos cronológica, que seguisse mais o que a gente quer e não o que a gente sente. Porque quando a gente resolve gostar, é fácil não ver defeitos, se deixar levar e acreditar em paixões, em amores. Você acredita na felicidade no casamento da prima, da amiga da tia, que encontrou seu príncipe encantado.

Porque se apaixonar é muito fácil, muito simples. É fácil adaptar horários, e se encontrar para um jantar durante a semana, ou um cinema. A perfeição está nos olhos de quem vê, e talvez por isso mesmo seja tão fácil. 

Difícil é esquecer toda a perfeição, que talvez nossos olhos tenham criado. Porque uma hora a realidade bate na porta, e geralmente ela bate a porta na sua cara, e dói. E você percebe que tem que se convencer que sim, todos os defeitos que suas amigas apontaram, existem.

Mas quando você resolve desgostar, resolve esquecer e usar o verbo "superei", aí o bicho pega. A felicidade alheia vem ser estampada na sua cara, junto com um buquê de rosas em plena segunda feira a tarde. Buquê que sua amiga recebeu, do namorado que ela vai casar um dia, e que você jura ser o casal perfeito.

Junto com a felicidade alheia, vem a amiga desiludida que engordou 5kg depois do fim do último namoro, seguido de uma temporada de 'Sex And The City' com brigadeiro. E amiga desiludida que te conta o caso da outra amiga que emagreceu 10kg depois do chifre do namorado, que na época era noivo.

Você se lembra dos buquês de rosas que já ganhou, e que ainda tem uma rosa seca dentro daquele livro que nunca terminou de ler. Lembra também que sabe de cor a maioria das falas de 'Sex And The City', por que afinal, você também já passou por isso antes.

E você tão confiante da sua auto estima, e da sua superação, começa a ter fé, a ter esperança no tempo, e a fazer regime para caber na calça jeans. Nessas horas geralmente o tempo não passa, por simplesmente você querer que ele passe depressa.

E aí você se dá conta que está sozinha, e que o inverno é mais frio do que você imaginava, ainda mais durante a noite. E a falta vem devagar, te mostrando que você não sente falta. Por que não se pode sentir falta do que não se teve, do que não existia. E o tempo continua no seu ritmo normal, por mais que você continue cheia de certeza de que ele nunca vai passar, você só não se deu conta que ele já está passando.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Existe alguém


De vez em quando a curiosidade me pega desprevenida, me coloca em alerta e me deixa fazendo perguntas sozinha. Daquele tipo de perguntas que a gente não sabe responder, que nos deixa pensando, cogitando e esquecendo da realidade por alguns segundos.

Nas vezes que a minha curiosidade insiste em me visitar, são geralmente as vezes que eu me pego fazendo aquilo, que eu juro que ninguém nunca ficará sabendo. Daquelas coisas que podem ser motivo de vergonha, mas que no fundo todo mundo faz. Aquele tipo de coisa boba, apaixonada que a gente esconde até da gente mesmo quando vê que está fazendo. Por que no fundo, é todo mundo idiota nesses casos.

Todo mundo queria saber um dia se existe alguém no mundo, que tem seu telefone na agenda e não tem coragem de ligar. Se existe alguém que já escreveu mensagens, e não teve coragem de enviar.

Saber se já abriram a janela do MSN, e não disseram nada. Se já inventaram desculpas imbecis, só para poder puxar algum assunto, que não fosse o tempo. Se existe alguém que visita o seu perfil no twitter, só para saber como andam as coisas.

Saber se existe alguém que curte as suas coisas do facebook, mesmo sem clicar no curtir. Todo mundo queria saber se alguém sabe o seu nome, telefone, endereço e sobrenome. Se alguém sonha com você, e acorda com vontade de dormir pra sempre.

Por que sim, já fiz todas essas coisas. Fiz várias vezes, fiz com pessoas diferentes, e com pessoas que nem sonhariam que isso já aconteceu. E por incrível que pareça, nessas horas eu sabia que existia alguém, e esse alguém era eu, mas disso ninguém precisava ficar sabendo.

E quando a curiosidade chega, me distrai e me faz pensar, eu só queria ficar sabendo se existe alguém que também já fez isso. Talvez eu me sentiria um pouco menos idiota assim. Por que eu só queria saber se existe alguém, que fez isso por mim.

domingo, 29 de maio de 2011

Fusível queimado



Outro dia enquanto eu me distraia com as minhas leituras de “O que toda mulher...” ou “Por que todo homem...”, e outros diversos títulos de auto-ajuda feminina. Me vi reparando no canto esquecido do meu quarto, que eu possuo um aparelho de TV a cabo. Abandonado, bem ao lado dá televisão que há muito tempo está quebrada. E se bem me lembro, além de tudo, eu possuo um pacote digital de TV a cabo. Sim, era pra eu ter imagem em high definition no meu quarto.

E diante da televisão quebrada, eu me perguntei o porque daquilo. Uma mesa, cabos, ligações e aparelhos tecnológicos, para uma televisão quebrada. E a cena não saía da minha cabeça, aquilo se tornou tão vazio.

No fim das contas eu acho que todo mundo é um aparelho de TV a cabo, e alguns são sim em HD. E todo mundo sai por aí procurando uma televisão, escolhendo a melhor marca, o melhor modelo. Quer aquele aparelho perfeito, que vai combinar com o ambiente e se encaixar perfeitamente no receptor digital. E olha, começou a me incomodar muito ver aquela televisão quebrada, ocupando um espaço enorme no meu quarto, no meu dia-a-dia.

Estranho pensar naquilo, naquela situação implícita bem diante dos meus olhos. Comecei a reparar os diversos modelos de televisão, nos diversos receptores de TV, e na verdade, ando reparando até na qualidade das imagens. É estranho pensar assim, parece meio vazio começar a comparar pessoas com aparelhos. Fui comentar isso com uma amiga, e ela me perguntou se eu havia me apaixonado por um cara em HDTV.

Na verdade, se depender da minha TV quebrada, e do meu aparelho desativado da Net, eu talvez tenha me apaixonado em preto e branco. Se eu pudesse comparar com um filme, seria um desses que passa na sessão da tarde. Isso se realmente me apaixonei um dia. Não considero isso desilusão, pelo contrário, isso se chama consciência.

Eu bem podia dizer que não mandei a TV concertar, porque não quero continuar usando uma televisão pequena e velha, enquanto eu não compro outra melhor. Sinceramente, eu nunca curti aquele ditado de “Quem não tem cão, caça com gato”. Se não tem cão não caça, ponto final. Mas eu já tenho tudo, e posso concertar a televisão.

Não estou dizendo que estou me contentando com uma televisão velha. Eu estou concertando o que eu tenho. E eu acho que é isso que a maioria das pessoas, principalmente mulheres, deveriam aprender. Ninguém precisa sair por aí no desespero, atrás de qualquer liquidação só pra ter uma imagem mais ou menos. Talvez a TV queimada tenha me mostrado muito mais coisas quando estragou, do que durante a sua vida útil.

Nesse momento vendo minha televisão 19 polegadas, passando um programa científico, em um dos canais com mais de três dígitos, eu me peguei feliz. Porque às vezes as coisas são mais simples do que a gente pensa. Não que eu tenha concertado sozinha, o fusível queimado da minha televisão. Mas agora a TV funciona, ela é minha, e eu não tenho que dividir o controle com ninguém. E vai ver, essa é a melhor parte.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Conhecida


Ela foi pelo caminho que escolheu, e não se importou com a distância. Mal se virou quando você disse que não iria, era mais fácil evitar as despedidas. Ela não queria que você a visse pela última vez, sem aquele brilho nos olhos que você criou.

As decisões pesaram na bagagem que ela carregava, e por mais que ela quisesse, não podia abandoná-las na primeira esquina. Voltar não era uma opção, certos caminhos, não têm volta. E ela seguiu com a esperança de que entroncamentos surgissem, e que um dia desvios fossem possíveis. Continuou em frente, como se a esperança do destino fosse mudar o final da trilha, criando um novo começo.

Cada vez que ela pensava em um final, as distâncias se tornavam menores. Ela teve medo quando deu as costas, teve medo no primeiro vento que sentiu no rosto, mas você tinha dito que ela tinha de ter menos medo das coisas. Menos medo do amor, menos medo da dor, menos medo do adeus. Porque as coisas que não podemos controlar dão medo.

E pela primeira vez ela sentiu o medo como parte de um todo, como parte de um início, ela sentiu que o medo era seu, e seguiria com ela. Ela sabia que ele vinha de mãos dadas com a saudade, que já começava a apertar o peito. E quando apertava, ela lembrava da sua voz em seu ouvido, dizendo pra não ter medo.

Ela fez escolhas, ela se despediu, ela foi pelo caminho que poderia trilhar sozinha. E ela sabia, que no fundo tinha a esperança de que o caminho a levasse de volta a você, mesmo sabendo que se ela voltasse você não estaria mais ali. E talvez ela nunca voltasse ali.

Entre todas as novidades, todas as pessoas, todos os desvios, todas as saudades, todas as lembranças, ela se esqueceu do medo que sentia. Ela já não tinha medo de te encontrar na próxima esquina, porque era ela. E porque ela, você não conhecia.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Divórcio


Onde fica o “felizes para sempre” na hora que um simples papel acaba com tudo? Pra onde vai o amor, as juras e promessas? Onde fica a saudade, a vontade de ficar juntos, os planos pra depois? Pra onde mandar a casa, os filhos, os primos, tios e avós que um simples papel fez surgir na sua vida?

Dizem que o amor existe que ele é forte, e invencível. Que passa por cima de qualquer barreira, de tempo, de espaço. Mas ele realmente existe? E quando os contos de fadas modernos vêm tirar toda a magia das histórias de amor? Quando com um papel assinado, a história acaba. A princesa fica com o castelo, dois carros, e os cachorros. E o príncipe fica com a casa de praia e o carro esportivo.

Parece que a simplificação da vida, acaba complicando demais o que deveria ser o mais simples nisso tudo. Criam-se empecilhos, a princesa não quer o castelo por que ele é pequeno demais, e o príncipe não quer o castelo por que preferia morar em uma casa na praia. Por que a princesa não escolhe o castelo na praia, e o príncipe aceita morar em um castelo, não por ser na praia, mas por estar com a princesa?

Individualismo. Creio ser esse o termo exato para descrever o amor no século XXI. Porque amor existe, existe amor próprio. Existem prioridades egoístas, que passam por cima de qualquer amor do século XIX.

Acredito em paixões, dessas avassaladoras, que fazem duas pessoas abrirem mão de tudo só para ter a companhia desejada. Mas nós não nos acostumamos ao amor, por que amor é dificuldade, é batalha, é tedioso e cansativo. Amor é sofrer, e se reconfortar, apenas por amar. Amor é não reclamar de um final de semana na cama. É achar bom economizar cozinhando em casa. Afinal, se tem amor, pra que dinheiro mesmo?

Amor é aquela coisa tediosa, que tememos quando começamos a nos apaixonar. Porque o amor também dá medo. Dá medo imaginar vários dias iguais, rotinas que incluem cinema, filme, pipoca, brigas, reconciliação, e mais brigas. Você vai ter medo de acordar e olhar pro lado e questionar se é aquilo mesmo o que queria, mesmo sabendo que lá no fundo há uma certeza inquestionável.

Quando você ama, atura manias estranhas, aceita mudanças e se adapta a um cotidiano. Porque amor não é quente como paixão, o amor é o que sobra da paixão. No amor não tem frio na barriga, não tem insegurança, não tem horas olhando para o celular esperando ele tocar. Porque quando é amor, você sabe que vai tocar.

Amor é simples demais, pra vida conturbada e agitada que estamos acostumados, e queremos ter. Não é fácil achar o amor, por que ele não se acha. Ele se esconde por baixos do véu mais simples, que você nem desconfia escondê-lo, mas você tem medo de achar. E por isso é tão difícil de acreditar em amor atualmente, já que muitas vezes o que vemos não é amor.

Se amor existe? Sim, existe em uma terra bem, bem distante. Onde príncipes e princesas não se importam de ver sua vida ser calma e serena. Onde as pessoas não têm medo de deixar um sentimento guiar suas escolhas, não tem medo de encontrar o chamado amor, mesmo que esse possa decepcioná-las. Nessa terra o chamado divórcio também existe, mas ele fica guardado junto com a bruxa má, da torre mais alta de um vale sombrio.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eu nunca


Você já disse, e já se arrependeu de ter dito. Já viu seus amigos cobrarem a promessa, que fez um dia no auge do seu desespero. E se sentiu fraqueza, por não ter conseguido cumprir.

Sempre há uma maneira de acabar com um sofrimento, com um desespero. E você jura que a sua força de vontade é maior que tudo. Jura que vai conseguir sozinho, se livrar de tudo que te aflinge. E nessa hora você diz: “Eu nunca”.

Nunca mais vou ligar. Eu nunca mais vou me deixar enganar assim. Nunca mais vou correr atrás. Nunca mais vou nesse lugar. Nunca mais me distancio de fulano. Nunca mais converso com ciclano. Eu nunca mais vou amar. Nunca mais vou sofrer. Nunca mais vou esquecer o que tinha prometido.

E um belo dia, cinzento ou de sol, você vai descumprir a promessa firme que fez um dia. Porque simplesmente, o nunca não existe. Ele não existe porque é grande demais, pra acreditarmos que vamos alcançar.

O nunca é forte demais pra coisas, às vezes pequenas, que achamos que não vamos superar. Só que acreditar que algo nunca vai passar, é desacreditar no tamanho de um nunca. A gente se esquece que o nunca não traz um fim, ele tem o efeito contrário, te faz acreditar na falta de um final. Coloca sem querer o indefinido na sua mão, bem diante dos seus olhos.

Nunca traz força quando dito, mas uma das maiores fraquezas quando esquecido. Acho que deveríamos banir a palavra do vocabulário, das coisas cotidianas e de todas as promessas que não vamos cumprir. Por que o nunca é sempre maior do que conseguimos pensar. E o sempre, o sempre também é grande demais.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Chamada perdida



Selecionar, editar, excluir. “Deseja excluir todas as informações deste contato?” Sim.

Foi assim que acreditei ter tirado o amor da minha vida, achei que chegaria mais longe sem o número na minha agenda. Todas as mensagens já haviam sido apagadas, os registros de ligações, deletados. Depois de tanto tempo, tantas memórias guardadas no fundo da caixa azul, dentro do armário que nunca abro. Procurando um número, surgia um nome, e a barriga ainda sentia o calafrio.

As coisas podiam ser assim, tão simples. Como se esvaziar minha lixeira de fotos, fosse deixar cada lembrança um pouco mais amena. A gente deixa o tempo passar, na esperança de que ele tape alguns buracos, substitua caminhos e nos mostre novos. Só que às vezes parece que não surgem novos caminhos, tudo se cruza, e o número de telefone continua lá, mesmo sem nunca receber chamada.

A lixeira vazia ainda está ali, pra lembrar que um dia esteve cheia. Porque tudo passa, mas deixa algo pra trás, deixa saudade, deixa felicidade, deixa a lembrança. E a gente questiona por que foi assim. Por que não falou isso, porque não ficou calado. Enquanto as perguntas surgem sem resposta, o tempo passa, e fingimos que esquecemos.

As coisas ficam esquecidas, até um estranho na rua ter um perfume familiar. E aí você volta pro mesmo lugar, pra mesma saudade. O número de telefone não está mais ali, não existem mensagens, a caixa azul não está onde estava antes.

E nessa hora eu vou querer passar naquele lugar em que nos conhecemos, ou ver aquele filme que vimos juntos, como se isso fosse fazer ficar mais perto. Perto da lembrança que um dia achei que havia excluído, junto com todos os planos que deixei pra trás. Mas memória não se exclui, amor não se deleta. E eu ainda sei seu número de cor.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Foi tudo?


Já faz tempo que deixei de te ver em cada esquina, que esqueci seu rosto entre os vários que achei. Esqueci a placa do seu carro, de tantas placas que olhei procurando a sua.

Não lembro mais qual é a sua música preferida, nem qual banda tocava. Parei de comer aquele doce de abacaxi que você adorava, até porque, nunca gostei de abacaxi. Não lembro mais o nome da sua rua, e esqueci o nome do bairro que sempre me confundia.

Esqueci o timbre da sua voz, e o cheiro do seu perfume. Apaguei seu número do telefone, que há certo tempo já tinha esquecido. Deixei as últimas coisas que me lembravam você no fundo de uma caixa, dentro do armário que nunca abro.

Mudei meu perfume, a cor do meu esmalte. Não uso mais a blusa que você gostava, nem faço minha cara engraçada que você pedia. Eu já consigo me olhar no espelho, e não lembrar de como era com você do meu lado. Fiz tudo, mudei tudo, e fiz o que falei que faria. Eu segui em frente.

E ainda procuro tudo o que esqueci. Só que agora o que eu procuro não tem nome, não tem cheiro, não toque, não tem definição. Apenas te procuro inconscientemente em cada abraço, em cada beijo. Por que você não está ali, por que eu não quero estar aqui.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Ela


Ela era o que todas queriam ter sido, o que todas viram um dia, e julgaram. Ela era o que poucos puderam entender. Poucos tiveram a coragem de se aproximar, e menos ainda de conhecê-la.

Se considerava pouco, perto do que queria, e muito, diante do que não a interessava. Ela podia passar como uma leve sensação de poder, mas podia te deixar perdido entre seus medos de se aproximar.

Ela chorava por amor, com seu rosto lindo, cheio de certeza que, por mais que doesse, ela ainda sabia o que queria. E seguia assim, por que sabia que uma hora, iria chorar de felicidade. E talvez, a causa fosse o fim do amor, que a assombrou por tempos. Ela não sabia como, só sabia que era assim.

E em cada olhar distante, ela encontra a vontade de deixar pra trás as coisas banais, por que acaba tudo ficando pequeno. E existem coisas que justificam escolhas, assim como existem fatos que justificam prioridades, mas ela sempre escolheu sem se justificar.

Mesmo com todas as certezas, ela sabia que seguiria fugindo. Porque o medo que sentiam dela era reflexo do medo, que ela sentia a cada olhar. A cada choro esquecido, a cada coração partido, que ela deixava para trás. Porque ela escolhia o próprio coração, sabendo que o amor ali, só iria saciar sua própria sede.

Ela era tudo o que desconhecia, tudo o que temia, tudo o que julgava. Ela era tudo o que escondia, era os vícios que descobriu, era a saudade que deixou. Ela sempre foi o ódio que surgiu, os amores que criou e as paixões que esqueceu.

Por que ela, ela é apenas uma mulher. Uma sombra de um corpo livre, que não se contenta em achar que apenas a felicidade é suficiente. Livre demais para você acreditar, que ela ainda estaria aqui quando acordasse.

domingo, 20 de março de 2011

Me olha


Seu olhar não diz, seu olhar não me têm, não me sente. Seu olhar me esquece entre as paredes de tinta descascada. Seu olhar me amedronta e me instiga. Seu olhar me quer, me procura, me perde enquanto eu tento encontrar.

Busco sentido no meio de um furacão de sensações, me perco como uma criança em uma loja de brinquedos. Me perco e não me acho, são muitos olhares, muitos sentidos. Por que você não deixa seu olhar dizer, chegar perto e mostrar o que quer?

Eu vou ouvir, eu vou querer, e vou poder ter. E vou poder me jogar do alto do meu penhasco de incertezas, e cair como se o vento no meu rosto fosse uma resposta. Nós estamos em um jogo, de poucas respostas e muitas perguntas, onde toda nossa conversa perde sentido quando acaba, mesmo sem ter chegado ao fim.

Tem algo que queria te dizer, mas me calei quando deveria ter dito. Vi você me olhar, e me perdi entre meus medos de assumir o que havia escondido de mim. Eu só quis seguir em frente, e deixar tudo pra trás.

Quando eu te disse que não era nada, você não deveria ter acreditado. Você já conhece meu medo de decisões. Então me olha, me sente, e me faça falar, como você sempre fez. Nada mudou, além do que não pode ser visto. O que havia antes continua lá, e continua simples como sempre foi. Tão simples, que me perco pensando onde pode chegar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Realidade


Difícil agora é acordar, quando a realidade dos meus sonhos, traz uma felicidade que eu havia esquecido. Que eu tentei esquecer, colocando em cima, qualquer coisa boba que pudesse me arrancar um sorriso. Felicidade que eu quis esquecer, porque estava tudo triste demais sem você aqui.

Eu posso sentir o seu toque, a leveza dos seus dedos, descendo do meu pescoço até a minha nuca. Você me olhando como um pintor, que acerta os últimos detalhes de sua obra.

Sinto seu toque, enquanto escuto sua voz risonha, me lembrando mais uma vez, que você gosta do meu pescoço, e que poderia passar o dia olhando pra ele.

Posso sentir cada movimento do meu cabelo, quando você o balança, só para se lembrar de como gosta dele assim, curto. E eu ouço a minha risada de sempre. Te lembrando que não é a primeira vez que você me pergunta, se eles sempre foram assim.

A realidade que eu vejo, é aquela que você criou pra mim. Eu te perdi, ao deixar a sua realidade, me levar para onde eu não conseguiria chegar. Talvez porque nunca tenha havido uma realidade, ou talvez tenham existido várias, que se desencontraram no meio do caminho.

E a minha realidade ficou pra trás, quando me dei conta, que nunca deixei você me conhecer. Porque eu não te conhecia, porque eu não me conhecia. Ou porque a minha realidade estivesse simplesmente, muito distante da sua.

E hoje, o meu sonho termina quando abro os olhos. E vejo que meu cabelo cresceu, e meu pescoço continua o mesmo. E a minha realidade começa quando seus dedos já não estão mais aqui, e eu me lembro do que  deveria ter esquecido.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Semiótica afetiva

Entre todos os meus questionamentos existencialistas, eu solto no meio da aula de Semiótica, que o amor é assim. Que todo sofrimento das músicas sertanejas é justificável, quando se sofre por amor. Que o movimento cíclico, das voltas do coração, justifica as canções de corno, que não saem da nossa cabeça quando entram.

Não que eu seja a favor das músicas de corno, ou que eu ache normal cantar para a pessoa amada “voa beija flor”. Nada contra, mas beija flor não é o tipo de apelido carinhoso que pretendo pronunciar, muito menos ouvir. É só que pra mim, se tornou completamente compreensível a fuga da realidade, que nosso coração pode nos meter.

Talvez essa questão metafórica, esteja me tirando um pouco do sério. Por que eu ando tentando me olhar no espelho, e valorizar o signo que eu vejo. Valorizar o objeto, tentando com todas as minhas forças me aproximar da coisa inalcançável.

E eu me pego buscando a falta de sentido sem querer, desentendendo o que era certo, e fazendo do abstrato, a minha realidade. Por que eu descobri que nada é possível de ser descrito, de ser caracterizado ou explicado. Por que a definição deforma, e limita.

E agora, que todos acham que meus neurônios queimaram em uma dessas aulas pela manhã, eu me pego buscando sentidos. Compreendendo sentimentos, e esquecendo princípios. Talvez por ter cansado de me definir, por ter cansado de tentar definir tantas coisas indefiníveis.

Por que “eu te amo”, não é nada. O que eu sinto, não pode ser colocado em palavras. Por que o amor não existe, o sofrimento não existe. E a agonia que inunda meu peito, não pode ser definida como saudade, é muito pouco.

Porque os jogos de tarô, que tentam ajudar nessas horas, não são nada mais que um jogo de buraco, onde o palhaço virou coringa. E agora a minha busca por definição acabou. Que venham as reticências, que os beija-flores possam voar, sem alguém para se lamentar por isso.

Por que eu não vou me definir, nem definir você pra mim. Há muitas coisas, significados, signos e sinais envolvidos. E entre nós dois, o que menos quero é limitação. Por que quando eu acordar de manhã, não quero definir meu sonho. Só quero deixar que a semântica seja a realidade, enquanto a sintaxe não vem.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Diz que sim


Se eu te disser que te quero de volta, você volta? Se eu te disser que não importa o que passou, que te quero ainda mais. Você entende? Se eu tivesse feito tudo diferente, você ainda estava aqui?

Se no meio das minhas falas complexas, e confusas, eu conseguir fazer com que você entenda que eu quero. Você aceita? Se eu te disser que não precisa de muito, que eu me encaixo no seu tempo, e que eu guardo tempo pra você. Você fica?

Se eu disser que fiz tudo errado. Você concorda, mas me perdoa? Se eu engolir meu orgulho e te pedir amor, você me dá? Se eu passar por cima dos meus defeitos quando você pedir. Você pede? Se eu te quiser apesar dos seus defeitos, você permanece o mesmo do meu lado?

Se eu te chamar pra sair, você aceita? Se eu deixar meu coração falar mais alto que meu cérebro. Você me pede pra ser racional? Se eu aceitar que você não é só mais um, você me diz que eu estava errada?

Se eu te pedir pra dar notícia, você lembra? Se eu engolir meu orgulho, e te disser tudo o que eu sinto. Você escuta, e diz que sente o mesmo? Se eu disser que não gosto de padrões, você me faz acreditar em exceção?

Se eu disser que te ver de novo mexeu comigo, você diz que foi recíproco? Se eu não escutar os conselhos das minhas amigas, você jura que eu não vou quebrar a cara? Se eu disser que não quero muito, que quero só nós dois. Você vai querer o mesmo?

Se eu não for a mais legal das mulheres, você me faz sentir como se fosse? E se eu não for a mais bonita, você me olha como se eu fosse quase isso? Se eu disser que prefiro sua barba grande, você deixa crescer? Se eu só quiser dormir do seu lado, você jura que não ronca?

Se eu quiser ir ao cinema, você assiste comédia romântica? Se eu chorar, você olha pra mim como se meu olho inchado, ainda fosse lindo? Se eu continuar cabeça dura, você me chama de teimosa?

Se eu brigar, você me olha sorrindo, e me chama de brava? Se eu te chamar de idiota, você me chama de linda? Se eu disser que nossos signos não combinam, você muda o zodíaco?

Se eu disser demais, você me faz parar de falar? Se eu não disser nada, você entende que era isso tudo, o que eu queria ter dito? E se eu disser que isso é tudo pra você, você acredita?


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Me disseram


E aí um dia me disseram, que o amor é bonito. Que ele não te completa, que ele se torna parte de você, uma parte que te aumenta. Que o amor é algo a mais, mais do que você achou que conseguiria.

E que o amor vai doer quando você menos quiser, mas toda dor vai fazer sentido. Me disseram também, que não há amor maior, ou menor, que apenas há amor. E que o amor correspondido, é a parte mais bonita disso tudo.

Me contaram que há começos que não permitem escolhas, e finais que tem de ser escolhidos. Mas que o amor é maior que o começo, e que o final.

E aí tentaram me explicar que há diferença entre amor e paixão, e que há diferença entre paixão e obsessão. E que uma hora a gente encontra o amor, mas antes vai passar pelas paixões e obsessões.

E enquanto eu ouvia, vendo todas as luzes da cidade na minha frente, eu tentava encontrar algum sentido naquilo tudo. Por que eu não vejo amores lindos, não vejo sentido na saudade, e não quero perder o controle das minhas escolhas. Mesmo estando diante da minha alma desesperada, por alguma solução.

E a dor das minhas paixões, que sempre ficam no estreito limiar da obsessão, aumentou. E doeu, como se o sentido de tudo, estivesse escondido entre os milhares de pontos luminosos que eu podia ver. E eu tentando ignorar qualquer sinal da ausência, da falta e da saudade de ouvir meu nome da sua boca. Por que há dor, e ela aumenta.

E no meio de todas as palavras que poderiam me convencer de que o amor é doce, eu me perdia. Pedindo para a estrela cadente que passou na hora, tirar a dor de lembrar seu nome.

E aí, me disseram que isso não é amor. Que esse desespero não é nada, e que ele não é infinito como parece. Me disseram que uma hora vai passar, e que eu vou olhar para as luzes da cidade como se cada ponto, fosse um sentido diferente. E quando eu amar, todas as luzes serão um único sentido. E aí , eu vou descobrir que eu nunca havia amado antes. E enquanto eu adormecia, eu acreditei, em tudo o que me disseram.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Desencanto


Toda história tem um auge, um ponto alto, um divisor de águas, na língua de um professor de geografia que tive um dia. Um ponto onde tudo que deveria acontecer já aconteceu, e as coisas passam a entrar no rumo de se resolver. É assim, tudo segue um curso natural, um padrão. Como as massas de ar quente, que uma hora chegam durante o verão.

Em algum ponto da minha história, meu coração virou uma lichia, e isso deve ter acontecido quase ao mesmo tempo, em que me perguntei, em qual parte da história, o cara virou um babaca.

Uma hora meu coração cansou de ser só doce, isso enjoa. E ele foi criando espinhos, e deixando lá dentro uma sementinha, onde tudo que tem de ficar de lição, se junta. A semente ficou dura, e a casca mais grossa. Mas a parte do cara virar um babaca, no meio da história, nunca parou de acontecer.

Em toda história, uma hora, alguém tem que se dar conta, de que a perfeição não existe. E que por mais que a lichia seja doce, ela é complexa.

Em comédias românticas alguém vacila, perde o controle, e quando se dá conta vai correr atrás do prejuízo. Todo mundo sabe que na vida real não é assim. Uma hora percebemos que aquele sapo só foi príncipe um dia, porque a nossa consciência leviana, deixou isso acontecer. E nessa horas não há comédia romântica, buquê de rosas, ou taças de champagne, capazes de reverter a situação.

A paixão deveria ser proibida de entrar na vida das pessoas, quando elas estão fragilizadas, quando elas não querem se dar conta, de que estão bem consigo mesmas. Paixão só deveria ser permitida quando a própria companhia começa a bastar. Quando você pensa que estar sozinho, vale mais do que estar mal acompanhado, se iludindo do contrário.

Nos acostumamos a pensar que a vida, está cheia de príncipes, e de corações doces pelo caminho. Quem dera fosse tão simples. A verdade é que príncipes não existem, muito menos princesas. Você pode encontrar alguém que não seja um sapo pra você, e um coração, que a casca possa não ser tão dura.

E aí você começa a lidar com as peças do destino, e vai chegando ao seu ponto alto da história. Talvez desse ponto alto, as coisas comecem a se resolver, ou talvez sua história ainda vá chegar bem mais alto. Mas esses detalhes, só ficamos sabendo no final.

Uma hora sua história pode ter uma reviravolta, e estar mais para um suspense, do que para um romance. E aí quase voltamos a estaca zero, e a casca da lichia endurece, e o caroço cresce. E você coloca o ponto final, sem ter muita de certeza da parte exata em que se deu conta, que se tratava de mais um babaca.

Acontece que uma hora a gente cresce, e se cansa das histórias de príncipes e princesas. E acaba se acostumando com várias lichias e sapos, espalhados por aí. Mesmo sabendo que uma hora, por distração, vamos colocar uma coroa em suas cabeças, e esquecer da casca com espinhos.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Sem fim


Eu não fiz parte da sua história, e fui só mais alguém na sua vida. Você ainda tem muitas histórias pra começar, e para acabar. Não existe perfeição, e por mais que você tenha visto isso em mim, a verdadeira estava em você.

Eu te vi criando, te vi construindo, o que não existia. Eu era demais pra mim, te vi, e te deixei partir. Te deixei ir, em cada piscar lento de olhos, que eu te via dar. Te deixei mergulhar na inconstância, e sentir, o que você nunca achou que encontraria.

Deixei o silêncio te ninar com carinho, e te levar pra onde eu nunca conseguiria chegar. Deixei o que parecia real ser esquecido, na fantasia de te ver dormir sorrindo. Entrei no que eu via, fingindo entender o que você sentia.

Não alcancei, quando tudo aquilo saiu dos meus braços, não fui atrás e não tentei impedir. Foi você quem disse, que sentia muita liberdade, para pouco amor.

O que você não sabia, é que amor é livre. Ultrapassa o que você chamava de perto, e aquilo que ainda acreditava ser distância. Eu vi você indo, e na porta, deixando saudade.

Por que não era pouco amor, não era tristeza, ou felicidade. Era aquilo que você fugiu, e que eu neguei pra mim. Do silêncio, você encontrou o som. E o som ecoou. Consumiu minha alma, e vibrou minha consciência.

Já era hora de parar de acreditar no impossível. Por que eu te amo com a alma livre, e essa liberdade não existira enquanto estivéssemos lado a lado. Eu te amo de longe, porque o meu amor, te tirou de mim. Por que você é parte de mim, que não conheço. É dor que eu não sinto, felicidade que de longe, ainda me completa.