sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Silêncio



Você foi como quem tem hora pra partir, como o vizinho apressado que não espera a senhora do segundo andar, na hora de entrar no elevador. Foi rápido, com pressa, sem olhar pra trás, enquanto estava muito concentrado nos obstáculos que deveria desviar.

Podia ser mais fácil, a distância que criamos é maior que a realidade. Pegar o carro, andar um ou dois quarteirões, parar na sua porta e buzinar. Fazer um escândalo, acordar vizinhos, só para você chegar na janela e me chamar de idiota, mas descer correndo pra me dar um beijo.

Sim, podia ser fácil, podia ser simples, podia ser real. Como no dia que vi você me olhando e dizendo que sentiu saudade, sem reação eu não disse que também senti. Não aproveitei seu abraço, nem o seu beijo eufórico. 

Me calei e sorri, como se aquilo não fosse nada. Como se por dentro não houvesse uma vontade enorme de te pedir pra ficar mais um pouco, por que eu não queria que a saudade voltasse.

Você me ligou quando eu já não esperava, quando aquela última esperança já havia sido encoberta pela saudade amargurada. Era tarde demais, a vontade se virou contra mim, e resolveu deixar claro que a vontade única não funciona.

Não adiantava querer todos os dias, sentir saudade, esperar o telefone tocar enquanto ele não toca. As coisas teriam que fluir, acontecer, e não deixar-nos enlouquecidos para que aconteça logo.

E na hora que eu sinto vontade de ir até a sua porta, fazer qualquer coisa, um escândalo que seja. Percebo que nem coragem para te ligar eu tenho. Que eu te espero, te quero, e sinto saudade, e que você nem sabe.

E as coisas seguem assim complicadas, e completamente simples. Por que o telefone está ali, com seu número. E agora, eu prefiro que fique assim. Não quero ser sua opção, nem te ter como opção para uma noite tediosa. Deixa a distância entre nós dois calar os murmurinhos da saudade, enquanto o silêncio do tempo me deixa te esquecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário