quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Desencanto


Toda história tem um auge, um ponto alto, um divisor de águas, na língua de um professor de geografia que tive um dia. Um ponto onde tudo que deveria acontecer já aconteceu, e as coisas passam a entrar no rumo de se resolver. É assim, tudo segue um curso natural, um padrão. Como as massas de ar quente, que uma hora chegam durante o verão.

Em algum ponto da minha história, meu coração virou uma lichia, e isso deve ter acontecido quase ao mesmo tempo, em que me perguntei, em qual parte da história, o cara virou um babaca.

Uma hora meu coração cansou de ser só doce, isso enjoa. E ele foi criando espinhos, e deixando lá dentro uma sementinha, onde tudo que tem de ficar de lição, se junta. A semente ficou dura, e a casca mais grossa. Mas a parte do cara virar um babaca, no meio da história, nunca parou de acontecer.

Em toda história, uma hora, alguém tem que se dar conta, de que a perfeição não existe. E que por mais que a lichia seja doce, ela é complexa.

Em comédias românticas alguém vacila, perde o controle, e quando se dá conta vai correr atrás do prejuízo. Todo mundo sabe que na vida real não é assim. Uma hora percebemos que aquele sapo só foi príncipe um dia, porque a nossa consciência leviana, deixou isso acontecer. E nessa horas não há comédia romântica, buquê de rosas, ou taças de champagne, capazes de reverter a situação.

A paixão deveria ser proibida de entrar na vida das pessoas, quando elas estão fragilizadas, quando elas não querem se dar conta, de que estão bem consigo mesmas. Paixão só deveria ser permitida quando a própria companhia começa a bastar. Quando você pensa que estar sozinho, vale mais do que estar mal acompanhado, se iludindo do contrário.

Nos acostumamos a pensar que a vida, está cheia de príncipes, e de corações doces pelo caminho. Quem dera fosse tão simples. A verdade é que príncipes não existem, muito menos princesas. Você pode encontrar alguém que não seja um sapo pra você, e um coração, que a casca possa não ser tão dura.

E aí você começa a lidar com as peças do destino, e vai chegando ao seu ponto alto da história. Talvez desse ponto alto, as coisas comecem a se resolver, ou talvez sua história ainda vá chegar bem mais alto. Mas esses detalhes, só ficamos sabendo no final.

Uma hora sua história pode ter uma reviravolta, e estar mais para um suspense, do que para um romance. E aí quase voltamos a estaca zero, e a casca da lichia endurece, e o caroço cresce. E você coloca o ponto final, sem ter muita de certeza da parte exata em que se deu conta, que se tratava de mais um babaca.

Acontece que uma hora a gente cresce, e se cansa das histórias de príncipes e princesas. E acaba se acostumando com várias lichias e sapos, espalhados por aí. Mesmo sabendo que uma hora, por distração, vamos colocar uma coroa em suas cabeças, e esquecer da casca com espinhos.

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