terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pé na bunda


E nesses dias que você sai de casa e resolve não pensar em nada, é quando parece que o mundo gira, querendo fazer você lembrar, pensar, repensar e questionar. Naqueles dias que você já cansou de rever seus problemas, sempre tem alguém que vem te mostrar que existe coisa pior, ou melhor, acontecendo por aí.

Em um desses dias entre o café corrido no meio da tarde a amiga liga e você larga o expresso pela metade, para um encontro as pressas, por que às vezes o problema é sério. Tem hora que as coisas acontecem sem você prever, não era um acidente, por sorte não fui encontrar a amiga desesperada no pronto-socorro.

Não posso dizer que estava tudo bem. Encontrei ela de moletom, blusa do Pato Donald’s dentro de casa, com as janelas fechadas. Uma receita de brigadeiro, restos de delivery pela casa, isso sem contar nos seis DVD’s atrasados em cima da mesa da sala.

Nesse momento eu era a realidade, dando três soquinhos na porta antes de encontrar o buraco que ela havia se enfiado. E a realidade é rápida, quando você vê ela já chegou, sentou do seu lado e resolveu que dali não saía mais. E ali eu era a realidade, não a faxineira. Com uma colher de brigadeiro me sentei no sofá e resolvi saber o que aconteceu.

É que o amor decepciona, e às vezes a decepção vem com bônus, o bônus surpresa. Eu não estava ouvindo sobre um namorado de três anos, que terminou tudo pra ficar com a vizinha, mas do ex de três anos que cansou, virou as costas e seguiu em frente.

Tem hora que o amor acaba, é normal. E também é normal que o amor continue, porque relacionamento é composto por duas pessoas, o que uma sente não determina o que a outra sente ou deixa de sentir. E quando o amor fica desamparado, sem rumo, perdido em meio à casa fechada com delivery, brigadeiro e comédias românticas o amor vira desespero. Ele vira obsessão, saudade, e ele vira dor.

É porque o pé na bunda dói, ora! Dói sim, e não dói só na bunda dói na cabeça, na testa enrugada, no olho inchado. Dói dentro do peito, como se você infartasse no meio da comédia romântica. E a dor ainda reflete no espelho, nas roupas, no sapato, no salto que você não quer mais usar. Dói em cada vez que você quer gritar com a cara enfiada em um travesseiro. Foi difícil dizer, mas ia continuar doendo, por um bom tempo.

Eu acompanhei o brigadeiro, mas decidi que não ficaríamos alí. Saímos, tomamos um café, que se estendeu para uma cerveja, e uma posterior balada. Ela não encontrou o príncipe encantado naquela noite, nem nas várias que se repetiram. E aquela não foi a única vez que o brigadeiro nos uniu.

São coisas naturais, como a gravidade faz você ficar preso ao chão, como o álcool prejudicar a sua memória da noite passada. É natural que um dia, por acaso, você sofra por amor. E queira sumir dentro de casa, enfiada no meio de roupas velhas e filmes sem sentido. 

Mas a realidade é que uma hora passa, a dor diminui e o brigadeiro entre amigas, vira desculpa pra conversas, risos e diversão. E na hora que passa, o que antes representava dor vira sinônimo de amor e felicidade. Clichê, mas verdade.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Esquecida


Ela havia se esquecido de pensar.Há muito tempo não pensava, simplesmente não queria. Pensar pra que se jurava já ter tudo que queria?

Esqueceu de lembrar do médico, do trabalho, do compromisso, da irritação. Não pensava, nem nela, nem nos outros. Seguia, sem pensar. Deixou de lado o que antes importava, e passou a pensar no que achava importante agora.

Iria seguir buscando a felicidade, não importa qual fosse. Buscava a felicidade nos outros, e não nela mesma. Achava que um namorado faria a diferença, e se um não fez, por que não tentar com mais dois ou três?

Continuava se esquecendo, se esquecia da beleza, enquanto se escondia atrás de corretivos, blush e óculos escuros. Ligava sempre o som no máximo, pra não lembrar de pensar enquanto passava pela rua que havia morado, ou pela rua que passou no dia que decidiu parar de pensar.

Esquecia carteira, celular, bolsa, cartões, onde quer que fosse. Esqueceu seu coração em alguma esquina quando quis beber pra esquecer. Esqueceu quem era junto com o celular, no banco de uma boate qualquer.

Ela simplesmente já não lembrava, que podia ser feliz por ela mesma. Esqueceu que tinha tudo pra sorrir mas preferia não lembrar. Ela já tinha medo de sorrir.