segunda-feira, 25 de abril de 2011

Chamada perdida



Selecionar, editar, excluir. “Deseja excluir todas as informações deste contato?” Sim.

Foi assim que acreditei ter tirado o amor da minha vida, achei que chegaria mais longe sem o número na minha agenda. Todas as mensagens já haviam sido apagadas, os registros de ligações, deletados. Depois de tanto tempo, tantas memórias guardadas no fundo da caixa azul, dentro do armário que nunca abro. Procurando um número, surgia um nome, e a barriga ainda sentia o calafrio.

As coisas podiam ser assim, tão simples. Como se esvaziar minha lixeira de fotos, fosse deixar cada lembrança um pouco mais amena. A gente deixa o tempo passar, na esperança de que ele tape alguns buracos, substitua caminhos e nos mostre novos. Só que às vezes parece que não surgem novos caminhos, tudo se cruza, e o número de telefone continua lá, mesmo sem nunca receber chamada.

A lixeira vazia ainda está ali, pra lembrar que um dia esteve cheia. Porque tudo passa, mas deixa algo pra trás, deixa saudade, deixa felicidade, deixa a lembrança. E a gente questiona por que foi assim. Por que não falou isso, porque não ficou calado. Enquanto as perguntas surgem sem resposta, o tempo passa, e fingimos que esquecemos.

As coisas ficam esquecidas, até um estranho na rua ter um perfume familiar. E aí você volta pro mesmo lugar, pra mesma saudade. O número de telefone não está mais ali, não existem mensagens, a caixa azul não está onde estava antes.

E nessa hora eu vou querer passar naquele lugar em que nos conhecemos, ou ver aquele filme que vimos juntos, como se isso fosse fazer ficar mais perto. Perto da lembrança que um dia achei que havia excluído, junto com todos os planos que deixei pra trás. Mas memória não se exclui, amor não se deleta. E eu ainda sei seu número de cor.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Foi tudo?


Já faz tempo que deixei de te ver em cada esquina, que esqueci seu rosto entre os vários que achei. Esqueci a placa do seu carro, de tantas placas que olhei procurando a sua.

Não lembro mais qual é a sua música preferida, nem qual banda tocava. Parei de comer aquele doce de abacaxi que você adorava, até porque, nunca gostei de abacaxi. Não lembro mais o nome da sua rua, e esqueci o nome do bairro que sempre me confundia.

Esqueci o timbre da sua voz, e o cheiro do seu perfume. Apaguei seu número do telefone, que há certo tempo já tinha esquecido. Deixei as últimas coisas que me lembravam você no fundo de uma caixa, dentro do armário que nunca abro.

Mudei meu perfume, a cor do meu esmalte. Não uso mais a blusa que você gostava, nem faço minha cara engraçada que você pedia. Eu já consigo me olhar no espelho, e não lembrar de como era com você do meu lado. Fiz tudo, mudei tudo, e fiz o que falei que faria. Eu segui em frente.

E ainda procuro tudo o que esqueci. Só que agora o que eu procuro não tem nome, não tem cheiro, não toque, não tem definição. Apenas te procuro inconscientemente em cada abraço, em cada beijo. Por que você não está ali, por que eu não quero estar aqui.