quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Semiótica afetiva

Entre todos os meus questionamentos existencialistas, eu solto no meio da aula de Semiótica, que o amor é assim. Que todo sofrimento das músicas sertanejas é justificável, quando se sofre por amor. Que o movimento cíclico, das voltas do coração, justifica as canções de corno, que não saem da nossa cabeça quando entram.

Não que eu seja a favor das músicas de corno, ou que eu ache normal cantar para a pessoa amada “voa beija flor”. Nada contra, mas beija flor não é o tipo de apelido carinhoso que pretendo pronunciar, muito menos ouvir. É só que pra mim, se tornou completamente compreensível a fuga da realidade, que nosso coração pode nos meter.

Talvez essa questão metafórica, esteja me tirando um pouco do sério. Por que eu ando tentando me olhar no espelho, e valorizar o signo que eu vejo. Valorizar o objeto, tentando com todas as minhas forças me aproximar da coisa inalcançável.

E eu me pego buscando a falta de sentido sem querer, desentendendo o que era certo, e fazendo do abstrato, a minha realidade. Por que eu descobri que nada é possível de ser descrito, de ser caracterizado ou explicado. Por que a definição deforma, e limita.

E agora, que todos acham que meus neurônios queimaram em uma dessas aulas pela manhã, eu me pego buscando sentidos. Compreendendo sentimentos, e esquecendo princípios. Talvez por ter cansado de me definir, por ter cansado de tentar definir tantas coisas indefiníveis.

Por que “eu te amo”, não é nada. O que eu sinto, não pode ser colocado em palavras. Por que o amor não existe, o sofrimento não existe. E a agonia que inunda meu peito, não pode ser definida como saudade, é muito pouco.

Porque os jogos de tarô, que tentam ajudar nessas horas, não são nada mais que um jogo de buraco, onde o palhaço virou coringa. E agora a minha busca por definição acabou. Que venham as reticências, que os beija-flores possam voar, sem alguém para se lamentar por isso.

Por que eu não vou me definir, nem definir você pra mim. Há muitas coisas, significados, signos e sinais envolvidos. E entre nós dois, o que menos quero é limitação. Por que quando eu acordar de manhã, não quero definir meu sonho. Só quero deixar que a semântica seja a realidade, enquanto a sintaxe não vem.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Diz que sim


Se eu te disser que te quero de volta, você volta? Se eu te disser que não importa o que passou, que te quero ainda mais. Você entende? Se eu tivesse feito tudo diferente, você ainda estava aqui?

Se no meio das minhas falas complexas, e confusas, eu conseguir fazer com que você entenda que eu quero. Você aceita? Se eu te disser que não precisa de muito, que eu me encaixo no seu tempo, e que eu guardo tempo pra você. Você fica?

Se eu disser que fiz tudo errado. Você concorda, mas me perdoa? Se eu engolir meu orgulho e te pedir amor, você me dá? Se eu passar por cima dos meus defeitos quando você pedir. Você pede? Se eu te quiser apesar dos seus defeitos, você permanece o mesmo do meu lado?

Se eu te chamar pra sair, você aceita? Se eu deixar meu coração falar mais alto que meu cérebro. Você me pede pra ser racional? Se eu aceitar que você não é só mais um, você me diz que eu estava errada?

Se eu te pedir pra dar notícia, você lembra? Se eu engolir meu orgulho, e te disser tudo o que eu sinto. Você escuta, e diz que sente o mesmo? Se eu disser que não gosto de padrões, você me faz acreditar em exceção?

Se eu disser que te ver de novo mexeu comigo, você diz que foi recíproco? Se eu não escutar os conselhos das minhas amigas, você jura que eu não vou quebrar a cara? Se eu disser que não quero muito, que quero só nós dois. Você vai querer o mesmo?

Se eu não for a mais legal das mulheres, você me faz sentir como se fosse? E se eu não for a mais bonita, você me olha como se eu fosse quase isso? Se eu disser que prefiro sua barba grande, você deixa crescer? Se eu só quiser dormir do seu lado, você jura que não ronca?

Se eu quiser ir ao cinema, você assiste comédia romântica? Se eu chorar, você olha pra mim como se meu olho inchado, ainda fosse lindo? Se eu continuar cabeça dura, você me chama de teimosa?

Se eu brigar, você me olha sorrindo, e me chama de brava? Se eu te chamar de idiota, você me chama de linda? Se eu disser que nossos signos não combinam, você muda o zodíaco?

Se eu disser demais, você me faz parar de falar? Se eu não disser nada, você entende que era isso tudo, o que eu queria ter dito? E se eu disser que isso é tudo pra você, você acredita?


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Me disseram


E aí um dia me disseram, que o amor é bonito. Que ele não te completa, que ele se torna parte de você, uma parte que te aumenta. Que o amor é algo a mais, mais do que você achou que conseguiria.

E que o amor vai doer quando você menos quiser, mas toda dor vai fazer sentido. Me disseram também, que não há amor maior, ou menor, que apenas há amor. E que o amor correspondido, é a parte mais bonita disso tudo.

Me contaram que há começos que não permitem escolhas, e finais que tem de ser escolhidos. Mas que o amor é maior que o começo, e que o final.

E aí tentaram me explicar que há diferença entre amor e paixão, e que há diferença entre paixão e obsessão. E que uma hora a gente encontra o amor, mas antes vai passar pelas paixões e obsessões.

E enquanto eu ouvia, vendo todas as luzes da cidade na minha frente, eu tentava encontrar algum sentido naquilo tudo. Por que eu não vejo amores lindos, não vejo sentido na saudade, e não quero perder o controle das minhas escolhas. Mesmo estando diante da minha alma desesperada, por alguma solução.

E a dor das minhas paixões, que sempre ficam no estreito limiar da obsessão, aumentou. E doeu, como se o sentido de tudo, estivesse escondido entre os milhares de pontos luminosos que eu podia ver. E eu tentando ignorar qualquer sinal da ausência, da falta e da saudade de ouvir meu nome da sua boca. Por que há dor, e ela aumenta.

E no meio de todas as palavras que poderiam me convencer de que o amor é doce, eu me perdia. Pedindo para a estrela cadente que passou na hora, tirar a dor de lembrar seu nome.

E aí, me disseram que isso não é amor. Que esse desespero não é nada, e que ele não é infinito como parece. Me disseram que uma hora vai passar, e que eu vou olhar para as luzes da cidade como se cada ponto, fosse um sentido diferente. E quando eu amar, todas as luzes serão um único sentido. E aí , eu vou descobrir que eu nunca havia amado antes. E enquanto eu adormecia, eu acreditei, em tudo o que me disseram.