quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Tédio sem fio


De dez coisas que eu escuto na aula, cerca de quatro aprendo por que preciso. Um dia quando tentei entender as diversas teorias da comunicação, esqueci seus nomes, e em alguns casos lembrei alguma parte de seus conceitos. Mas em uma aula algo em particular chamou minha atenção.

Quando ouvi que entre um interlocutor e um receptor há uma perda de mensagem, entendi bem grande parte do que já passei. Se você não entendeu nada, eu vou tentar explicar. Quem nunca brincou de telefone sem fio? E que atire a primeira pedra alguém que viu a mensagem chegar sem modificações no final.

Só cansei de ser desentendida, esquecida e de falarem que me expresso mal. Às vezes, todo mundo é que me entende errado.

Ou quem sabe eu entendo o mundo errado. Errado demais pra mim, tão errado que me dá preguiça de mudar e de entender. Tão errado que desisti. Deixo as coisas indo e as frases mudando no boca a boca.

Porque se olhares podem não ser entendidos, as palavras então devem se desesperar na esperança de saírem certas. Chegar certo é mais difícil ainda.

Sei lá, acho que vivo em um telefone sem fio constante, ou pelo menos o mundo parece ser uma grande brincadeira, que de vez em quando não quero participar.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Preto e acinzentado

Vez ou outra vejo um carro, que juro parecer com o seu. A cor não é a mesma, é azul acinzentado, e não preto acinzentado. Mas eu juro, insisto lá dentro de mim, que é a mesma cor. Ignoro o ano, que deve ser dois ou três anos mais velho que o seu. Juro ser igual.

Juro ser você, juro que vai parar, abrir o vidro e me perguntar o que estou fazendo ali. E o tal carro passa.

Fico depois procurando outro carro parecido, outro modelo semelhante, outra cor acinzentada, que eu possa jurar ser igual a sua. Não é fácil, ou às vezes é fácil demais. Passam carros demais, iguais demais para eu me concentrar em uma cor só, em um modelo só.

Eu sei que me iludo, sei e sou plenamente consciente disso, mas é involuntário. Como o movimento involuntário acelerado do coração, quando acabo chegando perto demais. Tão perto que sei que é certo demais, ou errado demais.

Não controlo a ilusão involuntária da proximidade. É impossível controlar a vontade de entrar no seu carro preto acinzentado, sentar do seu lado e te chamar de meu. Impossível.

Sigo me descontrolando, vendo carros cinza em estacionamentos. Procurando passar pelo mesmo caminho, no mesmo horário só pra ver se uma hora a gente se tromba. Em qualquer rua que seja, mesmo que seja pra te ver de vidro fechado, com o som alto esquecendo do trânsito.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Relevando


Tem dias que eu fico me perguntando, como a vida pode ser tão preenchida de coisas relevantes?

Sabe, eu nunca quis saber a história do fulano que se intitula menor da favela. Na verdade nem sabia que ele existe, mas pelo barulho, por que convenhamos aquilo não é música, eu já sei de quase toda a história dele. E ainda pude calcular que pelo jeito menor ele não é a muitos anos, quanto mais da favela, por que sempre tem um filinho de papai feito meu irmão pra bancar um tipinho desses.

Como se não bastasse, enquanto penso em algo tão relevante como o que acabei de escrever, nesse meio tempo devo ter twittado umas 4 vezes ou mais, sobre coisas como o calor, o tempo seco, a raiva da amiga, e as complicações do ínicio de semestre na faculdade.

Entre duas twittadas, o celular, a revista, o roller coaster. É tanta relevância que acabo me relevando.

Nesse ritmo esqueço acentos, palavras, nomes, fisionomias, e sentimentos, me perco. Perco sentidos.

Na facilidade de comprar a comida pronta, morro de saudade do arroz com feijão da minha mãe, aquele mesmo que eu repetia “de novo isso?” todas as vezes que chegava faminta da escola e sentia aquele cheiro. O tão relevante cheiro, que hoje virou saudade.

As vezes relevamos tanto, que acabamos esquecendo, e de tão relevantes as coisas somem, e aí vem a saudade. Por enquanto só queria relevar a saudade do cheiro do almoço da minha mãe, a raiva do rap do menor da favela, e o nariz ressecado pelo tempo seco.

E quem sabe depois de isso tudo, lembro de não me relevar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Os 4 lados da questão

Outro dia parei de pensar em três mil coisas ao mesmo tempo. Desisti não dá certo mesmo. Agora é uma coisa por vez e olhe lá. Sei que consigo atualizar o twitter, facebook, e ler meus e-mails ao mesmo tempo, mas no fim não fiz nada, é como se nem tivesse ido ali.

É a mesma coisa quando a gente fica dividida, pensa em três coisas ao mesmo tempo, não pensa em nada. Quer bolo de chocolate, torta de maçã e um café, sendo que isso tudo não combina. E você acaba não comendo nada.

A gente ama pessoas diferentes, tão diferentes que confunde. Uma não se decide, a outra não quer decidir, e a terceira já decidiu a muito tempo, do que adianta? Se você pede um conselho, continua na mesma.
“Faça o que você acha melhor pra você”

E a decisão fica na mesa, junto com o farelo do pão de batata, e dos respingos de coca zero e cappucino.

São quatro cabeças pensando por uma, e esquecendo no que tem que pensar. É coisa demais, gente demais, tempo de menos.

As vezes a gente cansa, dá vontade de jogar tudo pro alto, ir viajar, e pensar melhor. E querer seguir todos os conselhos que ouviu pela manhã.

Mas a discussão sempre termina no caminho da escada, por que a única coisa que conseguem decidir sempre é não ir pra aula.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Rodando


Segundo Chico Buarque
“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu,
A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu?”

Acho que sempre tem um dia assim, que você esquece do começo, não sabe se está no meio, ou se já chegou ao final. Dá pra entender?

Pequenos tristezas viram grandes, e as que eram grandes diminuem, e você perde o parâmetro de pequeno e grande. Perde o rumo e a sensação. Será mesmo que é tristeza?

Não sabe de onde veio, muito menos para onde vai, Bali? Hong Kong? Londres? Paris? Casa da mãe?

É tudo tão perdido dentro da gente, que lá fora fica mais perdido ainda. Quer cama, filme, pipoca e coberta. Não tem tempo para deitar, não está afim de ver filme, e ainda por cima está morrendo de calor.

O resultado, nunca sabemos. Alguns dizem que crises te levam ao crescimento, outros simplesmente nunca saíram dela. Diminuir, decrescer, talvez seja impossível, mas lá dentro é tudo tão pequeno, e insignificante.

Pra que crescer se já é tudo tão grande lá fora. Pra que andar, se a vontade é de ficar parado?

Não adianta filosofar muito, a mais perdida aqui sou eu, e não tente entender.

Para ouvir: Chico Buarque - Roda Viva