quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A gente

Outro dia ouvi nossa música. Fechei o olho e senti sua respiração, senti seu cheiro. Senti seu olhar, me olhando dormindo. Senti falta.

Esqueci que o tempo passou, que a música agora é velha, brega, e toca em programas de no fundo do baú. Mas naquela hora não importava. Era você e eu, ali, juntos.

Era aquele dia de sol, que a gente foi pro gramado ver o sol se por. Era o dia de chuva, que deitamos na rede pra ver a água cair do telhado. Era só a gente, do jeito que a gente queria.

É a nossa música, minha e sua, e ninguém tira. Você vai ouvir, um dia desses, quando ligar em alguma estação aleatória, em algum horário aleatório, em algum fundo do baú. E ela vai tocar, e você vai ignorar, vai mudar a rádio.

Mas aí você já vai ter lembrado da nossa rede, do nosso pôr do sol, da nossa noite de lua. E você vai lembrar daquele dia que eu sumi, que eu não quis mais, que eu virei a vilã da história.

E você vai me odiar. Vai querer me esquecer, vai ouvir sua playlist de músicas favoritas, vai sair, vai dormir. E vai me odiar mais, e mais. Vai querer matar o autor da música, o cantor, e o intérprete.

Tudo isso por causa de uma rede, de um pôr do sol, de um dia de chuva. Tudo isso por causa da gente.

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