terça-feira, 28 de setembro de 2010

Preto e acinzentado

Vez ou outra vejo um carro, que juro parecer com o seu. A cor não é a mesma, é azul acinzentado, e não preto acinzentado. Mas eu juro, insisto lá dentro de mim, que é a mesma cor. Ignoro o ano, que deve ser dois ou três anos mais velho que o seu. Juro ser igual.

Juro ser você, juro que vai parar, abrir o vidro e me perguntar o que estou fazendo ali. E o tal carro passa.

Fico depois procurando outro carro parecido, outro modelo semelhante, outra cor acinzentada, que eu possa jurar ser igual a sua. Não é fácil, ou às vezes é fácil demais. Passam carros demais, iguais demais para eu me concentrar em uma cor só, em um modelo só.

Eu sei que me iludo, sei e sou plenamente consciente disso, mas é involuntário. Como o movimento involuntário acelerado do coração, quando acabo chegando perto demais. Tão perto que sei que é certo demais, ou errado demais.

Não controlo a ilusão involuntária da proximidade. É impossível controlar a vontade de entrar no seu carro preto acinzentado, sentar do seu lado e te chamar de meu. Impossível.

Sigo me descontrolando, vendo carros cinza em estacionamentos. Procurando passar pelo mesmo caminho, no mesmo horário só pra ver se uma hora a gente se tromba. Em qualquer rua que seja, mesmo que seja pra te ver de vidro fechado, com o som alto esquecendo do trânsito.

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