terça-feira, 30 de novembro de 2010

Atrás do portão amarelo

Eu ainda consigo sentir o cheiro, o cheiro quente dos dias de verão. Quando a água azul ainda me olhava como se fosse minha. Posso sentir sob o meu pé, o chão de cimento fervendo com o calor do sol.

Está tudo tão igual e tão diferente. Sinto os mesmo cheiros, ouço os mesmos barulhos. Eu poderia dizer meus cheiros, meus barulhos, mas agora tão distantes, já não são mais meus.

Estou diante da casa vazia, que já não é mais lar. São minhas coisas, que não são mais minhas. É tudo tão meu que chega a doer, chega a me dar enjôo sentir meu cheiro nessas roupas. São sapatos que não uso, fotos que não vejo mais. Não é mais minha cama.

De mim só ficaram as coisas, as lembranças. Consigo me ver descer correndo para almoçar, posso me ver nadando e subindo no pé de amora. Não sou mais eu ali.

É a minha alma que caminha entre as portas. E eu deixei pra trás, na casa que não tem mais almoço, não tem mais rede, não tem mais graça.

Na casa ainda tem teto, tem parede, tem cor. Tem o vento de tarde, tem o sol na varanda pela manhã. Ter tudo e não ter nada, dói.

Dói deixar pra trás, e dói voltar sem estar ali completamente. O sol ainda se põe na mesma hora, no mesmo lugar, atrás da mesma árvore. Ainda está tudo ali, e a única coisa que consigo fazer é fechar o portão amarelo, e deixar aquilo onde está. Porque voltar não posso mais.

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